A MATRIZ E O CANTO OPOSTO

Capa_MF_Gonçalves_1A MATRIZ E O CANTO OPOSTO, de Manuel Fernando Gonçalves

colecção azulcobalto 017 | poesia

ISBN 978-989-8592-32-3| 1ª edição – Outubro de 2013

11×15 cm | 68 páginas | 6,95 euros

EXCERTO

“De bicicleta em direcção ao sol”

Quando a tarde cai, aos tropeções,
do sol indiferente, resiste ainda
o corpo frio, a luz rebelde que vem
dos olhos a fingir ironias e desmandos.
Luz sincera e itinerante à procura
de não se magoar, mesmo se rebenta
no tinteiro das emoções, na mão
discreta, na mais desprevenida mão
que ousa tocar o sol. Se é tarde,
e nada marca a sombra do alento,
que torpor define os ritmos, a rara,
feliz agonia das tardes libertas,
nesse tempo em que as cidades cantam
e se compõem para a festa? Não é
gradual o desgosto: os frutos ficam
podres devagar mas essa incandescência,
a que uns chamam por nomes estranhos:
a surpreendente paixão, amor cálido,
o desejo irresistível, esse movimento
incerto não cresce, não reduz o núcleo,
não simplifica o absurdo, é inexacta.
Que não restem surpresas. É tudo
muito evidente: no que se lê.